Entre os principais pontos debatidos, destacam-se as novas normas internacionais, como IFRS S1 e S2, e a transformação digital do setor, além dos impactos da reforma tributária em andamento.
No campo das normas contábeis, as discussões enfatizaram a importância de atualizações que buscam padronizar e aumentar a transparência nas práticas corporativas globais. As normas IFRS S1 e S2, por exemplo, trazem inovações relacionadas à sustentabilidade. A IFRS S1 requer a divulgação de informações sobre governança, estratégias e riscos associados ao desempenho sustentável das empresas, enquanto a IFRS S2 foca nos impactos climáticos, abrangendo emissões de gases de efeito estufa e riscos financeiros ligados ao clima.
Além disso, a substituição da IAS 1 pela IFRS 18, conforme discutido, promete aprimorar a apresentação das demonstrações financeiras. Entre os destaques da nova norma, está a criação de categorias específicas para receitas e despesas, facilitando a comparabilidade entre empresas. A norma também exige a divulgação detalhada das Medidas de Desempenho Gerencial (MPMs) definidas pela administração, contribuindo para uma maior clareza e confiança nas informações prestadas ao mercado.
Outro ponto de atenção foi a transformação digital da contabilidade, uma tendência que visa modernizar processos por meio de novas tecnologias. Essa transformação engloba a digitalização de documentos, automação de tarefas repetitivas e a adoção de tecnologias em nuvem. De acordo com o Victor, “a digitalização traz benefícios como aumento de produtividade, maior eficiência operacional e redução de custos, permitindo que os profissionais contábeis assumam um papel mais consultivo e estratégico”.
Essa transformação, no entanto, demanda mudanças de mindset dos contadores, que devem investir em novas ferramentas, buscar capacitação contínua e concentrar esforços em consultoria estratégica. A ideia é que, com o apoio das novas tecnologias, a atuação do contador passe a abranger análises gerenciais, planejamento tributário e estratégias de negócios mais amplas.
A reforma tributária, um dos temas mais debatidos durante o congresso, também foi abordada de forma abrangente. Segundo Magalhães, “a proposta visa modernizar e simplificar o sistema tributário, dividindo sua implementação em três fases de administração”. A Administração Tributária 1.0 é caracterizada por processos manuais e uso intensivo de papel; a 2.0 inclui a digitalização e o uso de ferramentas analíticas; e a 3.0 foca na integração de normas tributárias em sistemas contábeis, com auditorias digitais e tributação em tempo real.
Durante o evento, o mecanismo de Split Payment, parte da reforma, foi destacado como uma inovação relevante para simplificar a arrecadação de tributos. Nesse sistema, o pagamento de uma transação seria dividido automaticamente entre o fornecedor e o fisco, o que reduziria a burocracia e aumentaria a transparência no processo de recolhimento de tributos. Em termos de obrigações acessórias, representantes do governo manifestaram estarem desenvolvendo APIs (applicationprogramminginterface) para serem utilizados pelos contribuintes, permitindo a integraçãodos softwares fiscais, com transmissão automática das informaçõesao Fisco.
No evento, foram destacadas as vantagens da reforma tributária, considerando a simplificação, com a unificação de tributos em um IVA, e a redução da burocracia, ao diminuir obrigações acessórias e promover maior transparência. Outros pontos destacados incluem o fim da guerra fiscal entre estados e uma maior eficiência na resolução de litígios fiscais por meio de um contencioso administrativo integrado.
Por outro lado, críticas centraram-se na possibilidade de aumento da carga tributária, uma vez que a alíquota do IVA pode se tornar uma das mais altas do mundo. Também se discutiu a longa transição prevista até 2033, que pode gerar insegurança jurídica, além das exceções e benefícios que poderiam elevar a alíquota geral. Há preocupações, ainda, com o impacto no emprego e possíveis conflitos federativos, devido à redistribuição de competências tributárias entre estados e municípios.
O congresso, portanto, reforçou a necessidade de adequações e investimentos por parte dos contribuintes, principalmente em sistemas de gestão fiscal integrados e ferramentas de monitoramento automatizado. Magalhãespontua que “a reforma vai exigir a implementação de tecnologias como APIs de integração e módulos de compliance, a fim de garantir uma transmissão de dados segura e em tempo real”.
Em suma, o 21º Congresso Brasileiro de Contabilidade trouxe à tona a urgência de adaptações frente a um cenário de constantes mudanças regulatórias, tecnológicas e fiscais. Entre normas internacionais mais robustas, a digitalização dos processos contábeis e as novas diretrizes da reforma tributária, o evento destacou um futuro em que a transparência e a eficiência devem guiar a contabilidade brasileira.